sexta-feira, fevereiro 03, 2012

... para animar os desalentados


Uma palavra de Viktor Emil Frankl para animar os desalentados

Quando Paulo e Barnabé, em cerca de 46 depois de Cristo, entraram num sábado na sinagoga de Perge, na costa sul da atual Turquia, os responsáveis lhes disseram: “Se vocês têm alguma palavra para animar o povo, podem falar agora” (At 13.15, NTLH). Paulo não perdeu a oportunidade. Ele discursou de tal modo que as pessoas “pediram com insistência que eles voltassem no sábado seguinte a fim de falarem sobre o mesmo assunto” (At 13.12, NTLH).

A seguir, o leitor vai encontrar palavras, não de Paulo, mas de Viktor Frankl, o famoso psiquiatra austríaco que passou quase três anos em campos de concentração (veja Como é possível sobreviver num campo de concentração?)

Sobre a arte de viver
• Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão errar. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior do que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser.
• A vontade de humor -- a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada -- constitui um truque útil para a arte de viver.
• Com o fim da incerteza chega também a incerteza do fim.
• Quem não consegue mais acreditar no futuro -- seu futuro -- está perdido num campo de concentração.
• O prazer é e deve permanecer efeito colateral ou produto secundário. Ele será anulado e comprometido à medida que se fizer um objetivo em si mesmo.
• O ser humano é um ser finito e sua liberdade é restrita.

Sobre o sentido da vida
• Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido.
• O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera de ser cumprido.
• O sentido de vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o outro, de uma hora para outra. O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento.
• O sentimento de falta de sentido cumpre um papel sempre crescente na etiologia da neurose.
• As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios, mas não têm o sentido.
• O niilismo não afirma que não existe nada, mas afirma que tudo é desprovido de sentido.

Sobre a arte de sofrer
• Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. Aflição e morte fazem parte da existência como um todo.
• Precisamos aprender e também ensinar às pessoas em desespero que a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nós.
• Deus espera que não o decepcionemos e que saibamos sofrer e morrer, não miseravelmente, mas com orgulho!
• Ninguém tem o direito de praticar injustiça, nem mesmo aquele que sofreu injustiça.
• Quanto mais uma pessoa esquecer-se de si mesma -- dedicando-se a servir uma causa ou amar outra pessoa --, mais humana será e mais se realizará.
• Sofrimento, de certo modo, deixa de ser sofrimento no instante em que se encontra um sentido, como o sentido de um sacrifício.
• O sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heroico.
Sobre o “nem tudo está perdido”
• Se houve um dia na vida em que a liberdade parecia um lindo sonho, virá também o dia em que toda a experiência sofrida no passado parecerá um mero pesadelo.
• O ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e valores.
• O passado ainda pode ser alterado e corrigido.
• Quando já não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós próprios.
• Quando o paciente está sobre o chão firme da fé religiosa, não se pode objetar ao uso do efeito terapêutico de suas convicções espirituais.
• Uma das principais características da existência humana está na capacidade de se elevar acima das condições biológicas, psicológicas e sociológicas, de crescer para além delas.
• As pessoas decentes formam uma minoria. Mais que isso, sempre serão uma minoria. Justamente por isso, o desafio maior é que nos juntemos à minoria. Porque o mundo está numa situação ruim. E tudo vai piorar mais se cada um de nós não fizer o melhor que puder.
(Todas as frases foram retiradas do best-seller “Em Busca de Sentido”, publicado em alemão em 1945.)
[http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/327/uma-palavra-de-viktor-emil-frankl-para-animar-os-desalentados]

O MILAGRE DA PARTILHA *


Quero pensar com os irmãos e irmãs o texto impresso no Evangelho segundo Marcos, cap. 6 e vers. 30-44. O presente texto fala acerca da primeira multiplicação dos pães. Intercalando os milagres, leremos também a passagem do mesmo Evangelho, desta vez, no cap. 8 e vers. 1-9. Percebam, conforme as referidas leituras, que o milagre da partilha ocorreu por duas vezes.
É Interessante atentar para as duas vezes da ocorrência. É como se nosso Galileu estivesse relembrando seus seguidores e seguidoras acerca da prática da partilha. Jesus exclama por duas vezes: “Dai-lhes vós de comer”. Notem que a preocupação do mestre vai além dos ensinamentos, das palavras evangélicas, do discurso religioso.
O Nazareno apresenta pães e peixes, ou seja, apresenta alimento para as multidões, para as famílias necessitadas de pão. Percebam que a preocupação do Nazareno vai além do que é oferecido pelas nossas igrejas que, em sua maioria, não vai além de pregações proselitistas, ou melhor, “venha pra cá, pra salvar sua ALMA do fogo do inferno”.
Jesus se preocupa com a fome e cansaço do povo. Ele mesmo declarou certa vez que seu jugo é suave e seu fardo é leve, diferentemente daquilo que nossas igrejas impõem para seus fieis. O apóstolo Paulo também nos ensina acerca dos fardos ou cargas, ensinando que deveremos levar os fardos uns dos outros, ou seja, ajuda mútua, partilha, amizade e preocupação com o semelhante.
Os pães e peixes aqui, além de alimentar o povo, sobejaram para outras pessoas ainda não saciadas. Sempre ouvi aquela velha ladainha no seio evangélico: “fazer caridade não leva ninguém pro céu, deixa isso pros espíritas e católicos piedosos”. Alguns mais fervorosos citam até versículos isolados e conclamados em seus púlpitos: “É pela fé..., é pela graça..., é pelo sangue... e não por obras terrenas”. Pois é, a preocupação da maioria das nossas igrejas é mesmo com o céu, com o além-terra.
Outro texto que pode ser intercalado com os de Marcos, está na primeira carta aos coríntios, cap. 12 e ver. 28, o qual nos apresenta a partilha, o socorro e  a ajuda como sendo dom de Deus. Isto mesmo, dar de comer a quem tem fome, é dom de Deus, Ele se alegra com esse gesto simples e pouco praticado pelos seus representantes terrenos.
Precisamos ler mais a Bíblia e, acima de tudo, praticá-la no cotidiano da igreja. Sempre costumo ler o texto do Evangelho segundo Mateus, cap. 5 e vers. 6-7, o qual nos ensina sobre a prática da misericórdia e da justiça. O que mais nos chama a atenção é o ver. 10. Aprendemos aqui que só teremos parte no Reinado de Deus se formos amantes da JUSTIÇA, pois sem justiça, não há reino.
Assim, aprendemos com a Palavra de Deus que a partilha além de ser um dom de Deus, constitui-se um milagre na experiência humana do Sagrado. Que possamos ser um povo da partilha, um povo que ame seus semelhantes de verdade e deseje o melhor para eles. Assim seja!
Paz sobre nos!
Pr. Adriano Trajano [Pastor da Igreja Batista em Chã Preta/AL]
[Fonte/Texto original {http://pastoradrianotrajano.blogspot.com/2010/11/o-milagre-da-partilha.html}]

"Ainda que...": a espiritualidade da permanência

O que é permanência? Seria a pura insistência? Seria apenas a postura firme, a radicalidade que não recua? Talvez seja uma mistura de tudo isso, entretanto, prefiro defini-la como "a intimidade das raízes". Permanência é produto da discrição das raízes. Estamos numa sociedade em crise com a permanência. Uma época marcada pela transitoriedade de tudo. É a fuga do outro, enquanto pessoas e situações.

Observando alguns textos bíblicos, notei a insistência abençoadora do permanecer. A expressão "ainda que" permeia a textura de diversas construções teológicas das Escrituras. Analise, com calma, esses caminhos de permanência:

Em I Coríntios 13, Paulo escreve um dos mais espetaculares textos sobre o amor, marcado pela expressão "ainda que". Seu convite à permanência no amor precisa de eco em nossa espiritualidade monetária da atualidade. "Ainda que" todos os êxtases estejam presentes, sem a permanência do amor, tudo é vazio.

O profeta Habacuque, pontua seu poema (3. 17) com faces magistrais do "ainda que". Ele desafia o processo natural da vida: "Ainda que" a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; "ainda que" o produto da oliveira minta os campos não produzam mantimento. "Ainda que" o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado... "Todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação". Sua permanência insiste na alegria quando as estações das crises determinam a esterilidade. Habacuque significa "abraço", é a permanência no abraço de Deus que nos ajuda a vencer dias tempestuosos.

O Salmo 23 também tem seu "ainda que". É a presença que desafia o vale. No vale da suspeita, "a sombra da morte" não tem a última palavra, pois apesar do "ainda que", a presença do Mestre garante descanso. É o pastor que não desiste da ovelha frágil. É o pastor que não comercializa suas ovelhas, mas que as protege do mal (João 17. 15).

Também tenho minha lista de "ainda que":

Ainda que Deus não responda, permaneço orando, pois falar com o Pai já é milagre da graça;
Ainda que as pessoas mudem, permaneço amando, pois o amor do Pai, em mim, liberta-me para amar sem esperar retorno (João 13. 34: "Como eu vos amei...")

Ainda que sonhos não se realizem, permaneço sonhando, pois a vida sem o ingrediente estimulante da utopia seria insuportável.

Ainda que as flores deixem de nascer, continuarei percebendo as cores da existência e o perfume do amanhã.

Ainda que ninguém leia o que escrevo, permaneço rabiscando páginas que a história guarda.

Ainda que... A fantástica espiritualidade da permanência!


Até mais... (Texto original de Alan Brizotti)
[Fonte/Texto original: {http://alanbrizotti.blogspot.com/2010/06/ainda-que-espiritualidade-da.html}]