quinta-feira, janeiro 26, 2012

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE OU MISSÃO INTEGRAL: UMA BREVE COMPARAÇÃO

As duas correntes teológicas não têm nada a ver uma com a outra. A primeira “pegou” e a outra nem se quer chegou a sair do berçário.

Interessante pontuar algumas diferenças entre essas duas correntes. A teologia da prosperidade é notória no meio neopentecostal. O discurso vitorioso, a confissão positiva, a bênção mediante barganhas, a fé para ser vitorioso na vida financeira e física etc., não vale muito a pena alongar esta lista. Como não sou sociólogo da religião, mas curioso, arrisco-me em apontar, ainda que dentro de um olhar leigo sobre o tema, algumas pistas do porquê teologia da prosperidade e não missão integral.

Pesquisadores do tema, teologia da prosperidade, vão colocar seu surgimento nos Estados Unidos, e seu principal expoente, Kenneth Hagin entre outros. De lá saíram várias aberrações teológicas como Benny Hinn e diversos modismos apareceram com clara intenção de exportação. Como toda teologia é fruto de uma cultura, a teologia da prosperidade não poderia ser diferente. A potência responsável pela estabilização econômica do mundo, e por meio das armas e ideologia pressionar nações, há muito tempo se comporta como a “polícia do mundo” e conseguiu por meio de sua moeda e filmes impregnar o Ocidente com a sua cultura e modo operacional econômico. Pragmáticos, donos da verdade absoluta, fundamentalistas em quase todos os assuntos, os Estados Unidos passa uma imagem de opulência financeira e defensores do capitalismo selvagem neoliberal. Não é por acaso que a crise econômica mundial teve sua origem lá. Diante desse quadro, só poderia mesmo vir de lá a teologia da prosperidade.

No Brasil a febre pega lá pelos anos 70. Com a igreja brasileira sofrendo profundas mudanças, os líderes pentecostais importam o produto; assimila a sociedade de consumo; adéqua a mensagem ao mercado empresarial e formula um discurso triunfalista, repleto de prescrições como andar no sal grosso, passar pela “porta”, a campanha dos 318 pastores etc. Seus partidários são: R. R. Soares, Edir Macedo, Valnice Milhomens entre outros.

Os evangélicos dão ao mundo uma postura diante das mudanças que estavam acontecendo: o Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne, 1974, que deu origem ao Pacto de Lausanne, cujo relator foi John Stott, eminente teólogo inglês. Combustível para o que seria a missão integral no continente latino-americano, teólogos como Orlando Costas, Samuel Escobar e René Padilla, formularam uma teologia holística para as necessidades do continente. É claro que missão integral sofreu diversas acusações quando equiparada com a teologia da libertação – ela seria uma adaptação evangélica da teologia da libertação e que por isso não teve impulso o suficiente para sair do berço. De fato ela não teve bases para se desenrolar, ou seja, ela não teve povo para digeri-la. Missão integral ficou nos livros, que por sinal são bons do ponto de vista metodológico e teológico, nos congressos, nas revistas. Com a teologia da libertação, da qual sou um partidário convicto, foi diferente, esta teve povo, as chamadas Comunidades Eclesiais de Base. Com as reuniões do CELAM em Medellín e Puebla, ela ganhou força mesmo sendo bombardeada pela Santa Sé e sua Congregação para a Doutrina da Fé. Com um discurso teológico impregnado pela práxis libertadora, a teologia da libertação ganhou proporções mundiais. As semelhanças com a missão integral são claras: o que fazer diante do avanço do capitalismo neoliberal desumano? René Padilla, já em Lausanne, fez duras críticas ao imperialismo norte-americano, propondo, entre outras coisas, a rejeição do cristianismo com o famoso slogan norte-americano: “american way of life” (maneira americana de vida).

Missão integral: Reino de Deus e seus valores holísticos; uma comunidade que alimente o espírito coletivo de mudanças concretas; uma mensagem que seja “o evangelho todo, para o homem todo”; uma evangelização que tenha na sua agenda não apenas assistencialismo social, mas postura profética e comprometida em mudar realidades.

Teologia da prosperidade: sofrimento é coisa do diabo; a fé serve para conquistar bênçãos; todo o crente deve reivindicar prosperidade, a ausência dela significa falta de fé; a enfermidade é sinal de pecado; o mundo e tudo que nele há esta aí para ser conquistado.

Não dá nem para comparar.
[Fonte/Texto original>>>{http://wwwibmi.blogspot.com/2009/07/teologia-da-prosperidade-ou-missao.html}]