O que é permanência? Seria a pura
insistência? Seria apenas a postura firme, a radicalidade que não recua? Talvez
seja uma mistura de tudo isso, entretanto, prefiro defini-la como "a
intimidade das raízes". Permanência é produto da discrição das raízes. Estamos
numa sociedade em crise com a permanência. Uma época marcada pela
transitoriedade de tudo. É a fuga do outro, enquanto pessoas e situações.
Observando alguns textos bíblicos, notei
a insistência abençoadora do permanecer. A expressão "ainda que" permeia
a textura de diversas construções teológicas das Escrituras. Analise, com
calma, esses caminhos de permanência:
Em I Coríntios 13, Paulo escreve um dos
mais espetaculares textos sobre o amor, marcado pela expressão "ainda
que". Seu convite à permanência no amor precisa de eco em nossa
espiritualidade monetária da atualidade. "Ainda que" todos os êxtases
estejam presentes, sem a permanência do amor, tudo é vazio.
O profeta Habacuque, pontua seu poema
(3. 17) com faces magistrais do "ainda que". Ele desafia o processo
natural da vida: "Ainda que" a figueira não floresça, nem haja fruto
nas vides; "ainda que" o produto da oliveira minta os campos não
produzam mantimento. "Ainda que" o rebanho seja exterminado da
malhada e nos currais não haja gado... "Todavia eu me alegrarei no Senhor,
exultarei no Deus da minha salvação". Sua permanência insiste na alegria
quando as estações das crises determinam a esterilidade. Habacuque significa
"abraço", é a permanência no abraço de Deus que nos ajuda a vencer
dias tempestuosos.
O Salmo 23 também tem seu "ainda
que". É a presença que desafia o vale. No vale da suspeita, "a sombra
da morte" não tem a última palavra, pois apesar do "ainda que",
a presença do Mestre garante descanso. É o pastor que não desiste da ovelha
frágil. É o pastor que não comercializa suas ovelhas, mas que as protege do mal
(João 17. 15).
Também tenho minha lista de "ainda
que":
Ainda que Deus não responda, permaneço
orando, pois falar com o Pai já é milagre da graça;
Ainda que as pessoas mudem, permaneço
amando, pois o amor do Pai, em mim, liberta-me para amar sem esperar retorno
(João 13. 34: "Como eu vos amei...")
Ainda que sonhos não se realizem,
permaneço sonhando, pois a vida sem o ingrediente estimulante da utopia seria
insuportável.
Ainda que as flores deixem de nascer,
continuarei percebendo as cores da existência e o perfume do amanhã.
Ainda que ninguém leia o que escrevo,
permaneço rabiscando páginas que a história guarda.
Ainda que... A fantástica
espiritualidade da permanência!
Até mais... (Texto original de Alan Brizotti)
[Fonte/Texto original: {http://alanbrizotti.blogspot.com/2010/06/ainda-que-espiritualidade-da.html}]
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