terça-feira, janeiro 24, 2012

Deus se revela em nosso sofrimento

“Gostaria de discutir contigo sobre a tua justiça” (v.1). Essa frase pulou aos meus olhos ao ler o capítulo 12 do livro de Jeremias. O profeta estava em crise. Estava angustiado pelo que acontecia ao seu povo, não compreendia por que os “injustos” prosperavam. O servo de Deus estava sofrendo e não entendia o motivo. Então buscando entender o seu sofrer ele decide “discutir com Deus”. Jeremias expõe suas dúvidas a Deus, sabendo que Deus é justo e que Ele está sempre certo (v.1). O profeta sabia que apesar de todas as coisas Deus é, e sempre será Deus. Nisso ele podia descansar. Por isso Jeremias se dirige a Deus.

O profeta então, em seu diálogo/lamento com Deus expressa suas dúvidas e incertezas. Será que Deus não vê os ímpios fazem? Será que Deus é insensível ao que acontece aos seus? Onde está a vingança do Senhor? Em síntese, acho que o profeta queria perguntar o seguinte: Como o Senhor se revela em meio ao nosso sofrimento? Jeremias viveu já naquele tempo, aflições e dúvidas que hoje também experimentamos. Assim como o profeta, hoje vivemos na pele o sofrimento, sentindo as dores, a injustiças, o luto… Lamentamos e nos angustiamos com o que acontece a nós e ao nosso próximo.

Certamente essas dúvidas explodem em nossas mentes e corações recorrentemente. Como Jeremias, muito de nós está sofrendo. Provavelmente estou falando para pessoas que estão sendo assoladas por doenças (às vezes ditas incuráveis). Enfrentando problemas dentro de suas casas. Pais que não falam mais com seus filhos, casais que não se entendem mais. Pode haver também perto de nós, problemas com violência doméstica, drogas, desemprego, depressão… Neste momento, você e eu podemos igual ao profeta Jeremias, perguntar a Deus o que vemos expresso no capítulo 12.1-4. Será que Deus não vê os ímpios fazem? Será que Deus é insensível ao que acontece aos seus? Onde está a vingança do Senhor?

O que veremos agora, é que para cada uma das dúvidas de Jeremias (que também são as nossas), Deus se revela de uma maneira ímpar e especial.


NOSSO DEUS É O DEUS PRESENTE (v.5-6)
Ao final da exposição de Jeremias ele menciona o que os injustos falam de Deus: “Deus não vê o que estamos fazendo (NTLH)” (v.4). Jeremias se queixa abertamente com Deus por causa da prosperidade e sucesso dos ímpios. Sua terra, a terra que Deus lhes dera, estava tomada pelos babilônios, que aprisionava seu povo, exilava os melhores para sua terra, pegavam as terras de suas propriedades, as colheitas, ou seja, estavam como disse Jeremias “criando raízes, crescendo e dando frutos. Esses que assolavam sua terra, como vimos no versículo 4, achavam que Deus não os via. Jeremias com essas afirmativas ele lança esse questionamento: será que Deus não vê os ímpios fazem? Ou poderíamos falar que se Deus não vê é porque Ele mesmo está distante do que acontece a nos. Porém, Deus traz se revela ao profeta mostrando que Ele, não somente sabe de todas as coisas e que está presente, no hoje, mais sabe do dia que virá. Deus se revela nesse instante um Deus presente. Independente de nossas dores ou de quão sombrio é nosso momento, Deus está conosco. Como podemos saber disso?

Primeiro Deus fala do tempo presente com Jeremias: “se ficas cansado correndo contra os homens, quando chegar à hora de correr contra cavalos (…) e quando vierem as enchentes do Jordão?” (v.5). Deus mostrou ao profeta que sabia perfeitamente de sua situação e o advertiu para que ele se preparasse para o tempo futuro, que ainda seria mais duro e angustiante do que Jeremias estava enfrentando. Antes mesmo no capítulo 7.11 vemos o Senhor falando assim: “Eu mesmo estou vendo isso”. Deus está conosco em todos os momentos em qualquer hora. Ele é um Deus presente. Aquele que se coloca ao nosso lado nos dias de angústia.

Não é somente no livro de Jeremias que vemos a Deus se revelando o Deus que está presente em nossas angústias e dificuldades. Em Daniel, Deus se faz presente tanto na cova junto a Daniel (Daniel 6), como também aos três jovens Ananias, Misael e Azaria, Deus se faz presente, caminhando com Eles em meio ao fogo (Daniel 3.19-30). Poderíamos destacar diversas passagens onde Deus se revela presente. O Salmista Davi expressa esse certeza da presença de Deus em todos nossos dias de maneira lindíssima: “ainda que eu ande por um vale escuro como a e morte, não temerei (…), pois Tu, ó Senhor Deus, estás comigo” (Salmos 23.4) O que é mais lindo nesse Salmo, é a confiança de que independente do sofrimento e de quão incerto possa parecer o caminho, podemos descansar, pois quem nos conduz por esse vale (escuro como a morte) É o Senhor Deus. Se temos a presença real de Deus conosco, podemos descansar.

Nesse instante vou me apropriar do poema do Sérgio Lopes quando ele diz: “tente lembrar se alguma vez Jesus te abandonou? Tente lembrar quantas vezes Ele já te levantou?” Acho que essa pergunta é um desafio pra qualquer pessoa, pois não existe um só minuto de nossa existência que Deus não esteja presente, e de igual forma, nossa existência seria inviável se por um só instante Ele não nos sustivesse. Logo, se faz necessário entendermos que Deus está presente em nossas vidas nos momentos de alegria, de regozijo e conquistas, e também Ele está igualmente perto de nós em momentos de dores e angústias. Temos que tão somente descansar e entregar nossas vidas ao senhorio de Deus em nós.

Mas Deus só está presente? Outra dúvida aparece implícita no texto de Jeremias. Será que Ele é insensível ao meu sofrer?

NOSSO DEUS SOFRE COM A GENTE (v 7.8)
     Jeremias novamente abre seu coração para Deus. O profeta diz que a terra está de luto, a relva secou, os animais perecem… Até quando? (v 3.4) Isso é uma ousadia por parte do profeta. O que ele está expressando é quase: Senhor! Estão todos sofrendo. Eu estou sofrendo. Já se faz presente em nossa terra a fome e a morte. Quando Tu verás estas coisas e se sensibilizará?

Assim como no cenário de sofrimento descrito pelo profeta, temos visto e vivido quadro semelhante em nossos dias. Em toda história de nosso país, talvez seja esse o momento em que estejamos experimentando maior estabilidade econômica. Somos um dos, senão, o maior produtor de alimentos do mundo e o que vemos não é um povo alimentado. Vemos sim, a grande parte da população morrendo de inanição. Vemos diversas injustiças em todas as partes, muitas vezes do lado de nossas casas. Frente a esse cenário, pode passar por nossas cabeças o mesmo questionamento de Jeremias: Quando Tu verás estas coisas e se sensibilizará?

E o que vemos em Jeremias, é um Deus que além de ser presente, Ele senti o nosso sofrimento. O nosso Deus sofre com a gente. Essa certamente, a meu ver, é a forma mais humana da revelação de Deus para nós. Nosso Deus é um Deus que se sensibiliza, um Deus com sentimentos, um Deus que sofre por nós e conosco. Nosso Senhor é um Deus diferente. Ele é um Deus “humano”.

Vemos isso quando o Senhor diz para Jeremias: “Eu abandonei minha família (…) entreguei aquela a quem amo na mão dos meus inimigos (NVI)”. Também em “meu povo é um pássaro atacado de todos os lados por gaviões (NTLH)”. Nosso Senhor fez questão de se revelar como um Deus que não somente está presente, mas sofre com a dor de “sua amada”. Ele mesmo deixa claro para Jeremias que não alegrava em nada o Seu coração ver o sofrimento que o seu povo estava passando. Assim como o profeta Jeremias ao ver seus compatriotas e irmãos sofrendo, Deus também sofria.

Confesso que já tive o mesmo sentimento de Jeremias. Algumas vezes (não poucas confesso) achei que Deus não se sensibiliza com meu (nosso) sofrimento. Quando vemos um dos nossos chorando de dor ou angústia e o sofrimento e a dúvida invadem nosso ser, passa por nossa mente o sentimento de que Deus se coloca como sendo indiferente e insensível a nós. Mas isso não é verdade. Deus não é e nem esta indiferente à nossa situação. Como já mencionamos antes, Deus sofre com a gente e pela gente.

Desde a libertação do povo hebreu do Egito quando Deus se revela assim: “tenho visto a opressão (…) escutado o clamor (…) sei que estão sofrendo (…). Por isso desci para livrá-los”, em Êxodo 3.7-8, ou em João 3.16, quando Deus revela Seu amor por nós, enviando Seu Filho, (Deus entre nós) afim de que não perecêssemos. Nisto vemos um Deus que sabe, vê, escuta e participa de nosso sofrimento.

Deus agora faz muito mais além do que poderíamos pensar. Ele se revela retirando de nós o peso da vingança. Ele se mostra misericordioso.

NOSSO DEUS ALCANÇA A TODOS COM MISERICÓRDIA (v. 15)
            É bem clara a fala clamando por vingança que Jeremias expressa: “arranca os ímpios como ovelhas destinadas ao matadouro! Reserva-os para o dia da matança!” (v 3). Jeremias queria ver, e estar presente se possível, no dia em que o Senhor exerceria seu juízo e vingança sobre os ímpios. Jeremias revelou um sentimento comum a todos os humanos. Nós queremos uma justiça baseado em mérito, ou seja, receber aquilo que merecemos. Se alguém fizer algo contra nós, só nos satisfazemos ao vê-lo pagando (ou sofrendo) com juros. Porém não é assim que Deus se revela.

Deus fala com Jeremias de Sua obra no meio do Seu povo. O Senhor iria restaurar todo povo de Israel e Judá, trazendo-os de volta para terra de Sua promessa. Aleluia! Agora é então o momento de ver os ímpios pagarem com suas vidas. Chegou enfim a hora da matança! Não. Deus não age desta forma. Deus se revela como um Deus misericordioso. Vemos isso em: “terei compaixão de novo e os farei voltar, cada um à sua propriedade (…) e se aprenderem a se comportarem como o meu povo (…) serão estabelecidos no meio do meu povo”. (v 15.16). Esse cenário é completamente diferente do que desejava Jeremias. Deus revela Seu plano de salvação para todos. Deus nos concede Sua misericórdia.

Assim como Jeremias muitas vezes nos vemos desejando a vingança contra alguém. Queremos ver os ímpios e injustos pagarem com suas próprias vidas pelo que eles fizeram. Achamos que nosso padrão de justiça é muito elevado, quase acima do bem e do mal, e que podemos nos considerar em condições e clamar por vingança. Porém esquecemos-nos da nossa condição de pecado e como já estivemos longe de Deus. O apóstolo Paulo percebe essa nossa terrível condição quando expressa em Romanos 2.1 “portanto, você, que julga os outros, é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você que julga, pratica as mesmas coisa” e completa, “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23). Paulo nos mostra que pela não é sequer um justo.

Porém o Senhor tem padrões bem mais altos que os nossos. Seu padrão de justiça é incompreensível as nossas limitadas mentes. O Senhor Deus, nos concede sua misericórdia e graça, e através de seu amor infinito, não nos dá aquilo que merecemos (que é a morte) isso é graça. E concede a nós todos (aquilo que não merecemos) redenção e salvação (perdão de nossos pecado e vida verdadeira) isso é misericórdia. Nosso Deus alcança a todos com misericórdia, indistintamente.

Não tentamos em nenhum momento explicar o motivo de nosso sofrimento ou coisa parecida. O que abordamos é que em meio ao nosso sofrimento e dúvida, podemos ter a certeza de que Deus se faz presente, caminhando conosco. Podemos saber que Deus sofre com a gente e por nós e que Ele mesmo, o Senhor de nossas vidas, nos restaurará e nos alcança a cada manhã com sua graça e misericórdia. E como diz o salmista “de nossos olhos enxugará todas as lágrimas”.

Como falamos no início, você hoje pode estar sofrendo com momentos de intensa dor e angústia. Pode hoje estar com dúvidas e como Jeremias querendo discutir com o Senhor. Porém hoje você pode sair daqui com uma certeza em seu coração: Nosso Deus se faz presente em seu sofrer.

Igreja em ação

Tempo de ser igreja é uma campanha da Editora Ultimato com o objetivo de valorizar o que a igreja cristã fez e tem feito na sociedade. Queremos reunir relatos positivos da caminhada da igreja, ontem e hoje. Para isso, criamos uma nova seção em nosso site: Igreja em ação.
O primeiro relato está em evidência por causa da operação do Governo de São Paulo na chamada “cracolândia”. É o trabalho da Igreja Batista com a Missão Cristolândia. Leia abaixo: Uma iniciativa de igrejas batistas está ajudando dependentes químicos das chamadas “cracolândias” (redutos de viciados em crack) a libertarem-se da droga. A Missão Batista Cristolândia começou em São Paulo, SP, e já chegou ao Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A metodologia da missão inclui abordagem direta e atendimento em casas de acolhimento, as chamadas “cristolândias”. O trabalho começa com voluntários — muitos deles ex-dependentes — que visitam a cracolândia e oferecem alimentação e abrigo aos dependentes, além de orientação espiritual. Estes são acolhidos e têm suas necessidades básicas supridas. Aos dependentes que aceitam tratamento, o projeto oferece também possibilidade de estudo em centros de formação cristã e apoio em comunidades terapêuticas. Atualmente há cinco destas comunidades: duas masculinas (em Minas Gerais) e três femininas (no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Goiás). O projeto começou oficialmente em março de 2010, com a liderança do casal de missionários Humberto e Soraya Machado. De outubro de 2010 a setembro de 2011, as cristolândias atenderam mais de 34 mil pessoas. Destas, quase 2 mil foram encaminhadas a comunidades terapêuticas e cerca de 600 decidiram estudar em centros de formação cristã.
A inserção de ex-dependentes em igrejas locais é um dos pontos fortes do projeto. Só na Primeira Igreja Batista de São Paulo 171 pessoas foram batizadas e sessenta se reconciliaram com Cristo.
Visibilidade
Desde que o Governo de São Paulo iniciou uma operação para acabar com a cracolândia, o projeto Cristolândia ganhou destaque. A sociedade descobriu que há uma igreja batista localizada dentro da cracolândia (Alameda Barão de Piracicaba, 509) e esta igreja se transformou em local de refúgio para os dependentes químicos. O pastor Humberto explica: “Fazíamos uma média de 40 por mês. Já chegamos ao dobro disso em dez dias e vamos abrir novas 200 vagas”.
O jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem e série de fotos sobre a Cristolândia. O jornal O Estado de São Paulo e o Bom Dia SP (Rede Globo) já haviam mostrado no ano passado o trabalho dos batistas.
Na terça-feira (dia 10), a Cristolândia passou por um teste de credibilidade, quando uma ronda da PM tentou retirar da calçada vários usuários de drogas. “Aqui é solo sagrado”, alertou o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua e que visita frequentemente a missão batista. A PM recuou.
Os gastos da Cristolândia são de aproximadamente R$ 70 mil por mês. O custo é bancado por ofertas de igrejas Batistas de todo o país. São oferecidas refeições, além de local para banho e roupas limpas.
Dados do IBGE de 2010 indicam que pode haver mais de 1 milhão de usuários de crack no Brasil.
[Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/igreja-em-acao]